Em amena cavaqueira com... Nuno Prata
A propósito da estreia de TODOS OS DIAS FOSSEM ESTES/OUTROS, que aqui assinalamos, convidamos o músico Nuno Prata para uma curta conversa. Os novos sons têm andado nos ouvidos mais atentos dos melómanos portugueses - e merecidamente, porque valem a pena. Aqui fica o resultado.
Lenta Divagação:A saída de TODOS OS DIAS FOSSEM ESTES/OUTROS era há muito aguardada. Porque demorou tanto tempo a ver a luz do dia?
Nuno Prata: Porque ninguém se interessou verdadeiramente em editar o meu trabalho antes. Porque a Turbina quase não tem estrutura pessoal nem financeira e este é apenas o segundo disco que edita, e o primeiro de canções. Porque eu decidi fazer uma capa para o CD fora das normas.
LD:Pelo que vou ouvindo e lendo, a recepção ao álbum tem sido calorosa. Tens essa percepção?
NP:A recepção tem sido especialmente calorosa pelas poucas pessoas muito curiosas e interessadas que vão aparecendo nos concertos. O "meio" que apregoa o seu interesse em canções, e em canções cantadas em português, está-se — com algumas excepções — completamente marimbando.
LD: Ao apresentar 19 temas num primeiro trabalho, não estás a descartar demasiados trunfos logo à partida?
NP:Não. Primeiro porque as canções têm um tempo de vida e têm de ser usufruidas durante esse tempo. Os trunfos para o serem têm de ser jogados no momento certo, senão de nada valem. Estas eram as canções que estavam prontas para gravar. Segundo porque tenho mais umas dezenas de canções e umas centenas de ideias em bruto, e estes é que são neste momento os meus trunfos se eu quiser continuar a partida. Já por várias vezes me disseram que o disco tem demasiadas canções. Demasiadas vezes. O facto de ter muitas canções também podia servir para dizer que eu sou super criativo.
LD: Durante algum tempo foste desenvolvendo uma parceria com Nicolas Tricot, apresentando-se os dois sob a veste " Nuno, Nico". A cumplicidade manteve-se, mas o projecto aparece apenas sob o teu nome.
NP:Manteve. O Nico foi, e continua a ser, fundamental para todos os passos do processo posteriores à composição. O projecto à partida era já um projecto a solo. Na altura em que comecei a apresentar as canções ao vivo achei que "Nuno, Nico" ilustrava bem aquilo que as pessoas iam ver no concerto: eu e o Nico a tocar. Deixou de fazer sentido quando comecei também a fazer concertos a solo.
LD:Creio não ser apenas a minha opinião pessoal, mas de uma forma geral sente-se que o panorama da musica portuguesa ficou bem mais pobre com o desaparecimento de duas bandas - os Belle Chase Hotel e, precisamente, os Ornatos Violeta. Não obstante, os seus elementos continuam-se a mostrar activos, como é, felizmente, o teu caso. Estas aventuras inviabilizam o regresso dos Ornatos?
NP:Eu acho que pode ter ficado um pouco mais rica. Os Ornatos multiplicaram-se: Pluto, Dep, Supernada, eu e o Manel. Os Belle Chase Hotel (e espero não estar a dizer uma parvoíce) também: Quinteto Tati e JP Simões. As bandas também têm um tempo de vida e o nosso já passou. É isso que inviabiliza o regresso dos Ornatos.
LD:Trazendo à discussão um assunto muito debatido nos últimos tempos: um dos argumentos a favor da nova lei da rádio e da imposição de quotas foi a protecção da música portuguesa e o aumento de rodagem nas rádios, de temas compostos em língua portuguesa ou provenientes de músicos nacionais. Tens sentido qualquer mudança de hábitos, positiva ou negativa, neste sentido?
NP:Não ouço rádio. O meu avariou-se há já uns anos e o carro que herdei da minha mãe não tem. Parece-me que sendo essa uma medida isolada não dará origem a grandes mudanças. A questão é bem mais complexa.
LD: Para a promoção do teu álbum, tem sido mais profícua a rádio ou a internet?
NP:Sei que as canções vão passando na rádio, graças aos radialistas que podem escolher aquilo que passam nos seus programas. A acreditar no que me vão dizendo, tirando a Antena 3, passam sobretudo em rádios locais. Na internet consigo tomar melhor o pulso a isso. Todos os dias adiciono pessoas à minha lista de amigos no MySpace e têm surgido vários pedidos de entrevistas para blogues, como este. Mas neste caso estamos a falar mais de divulgação boca a boca.
LD:Como vai ser a apresentação em palco do disco e onde é que a vamos poder presenciar?
NP:O lançamento do disco foi feito através de várias apresentações nos fóruns FNAC. O concerto é feito em trio para mostrar as canções com os arranjos do disco. À partida poderão vê-lo em qualquer local que nos contrate para o efeito.
A Lenta Divagação agradece ao Nuno Prata a disponibilidade e colaboração. Não o deixem de visitar por estes sítios:
Já agora, e para aguçar o apetite, estejam atentos às próximas edições do Peças de Roupa...
Etiquetas: Cavaqueira, Nuno Prata
Muitos parabéns.
Ao Sombra, por mais uma bela ideia concretizada e pela pertinência das perguntas!
Ao Nuno Prata, por um disco fabuloso, muito bem escrito e cheio de ideias frescas - como, de resto, as respostas e considerações cotejadas pelo próprio nesta entrevista.
Comentado por Olavo Lüpia | sexta-feira, outubro 27, 2006 2:02:00 da manhã
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