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Em directo: Final Fantasy, Casa das Artes - Famalicão, 16.10.2006

Não estava minimamente preparado para o que vi na Casa das Artes em Famalicão. Receei o concerto a partir do momento que soube que Owen Pallet viria a Portugal sozinho, sem auxílio de mais nenhum musico. É que He poos clouds, o segundo e aclamado álbum do músico canadiano, foi escrito para um quarteto de cordas, não para um musico só. E a experiência com one-man-bands não tem sido nada agradável; lembro-me, por exemplo, da semi-desilusão que foi o concerto de Andrew Bird nesta mesma casa. Mas a noite de segunda-feira superou todas as expectativas.
O palco era muito simples: uma tela branca, um teclado, um amplificador, dois microfones, um aparelho carregado de pedais e um retroprojector.
Owen, de aspecto franzino, entrou decidido e cheio de energia. Mal as luzes se apagaram, rompeu pelo palco a passo de quase corrida e, com o seu inseparável violino, deu início à magia: Do You Love foi o primeiro tema apresentado num curto mas energético concerto.
Ficamos rendidos logo ao início. Actuando sozinho por opção própria, Owen recorreu ao artifício dos samplers e loops, criados in loco. E a regra manteve-se ao longo de todo o concerto: para cada musica, o canadiano gravava uma linha de baixo com o violino, depois outra e depois mais outra ainda, cantando e tocando por cima dos sons que daí floriam. A dada altura, os violinos multiplicavam-se, mais parecendo que estávamos na presença de uma verdadeira orquestra! A emoção que Pallet conferia às notas que sacava do violino, a forma, por vezes pouco ortodoxa, com que utilizava o instrumento, a circularidade dos sons que dali rompiam... foi tudo perfeito!
A acompanhá-lo em palco, uma senhora ia ilustrando os trechos musicais com pequenos contos, que nos chegavam através da sobreposição de acetatos projectados no ecrã branco ao fundo do palco: castelos, príncipes, princesas, barcos, aviões, lagos, cores e uma fixação estranha por esqueletos e homens enforcados. Tudo muito artesanal, mas com resultados visuais brilhantes.
Nem só de musculo viveu o concerto. São conhecidas as capacidades musicais de Owen, sobretudo na execução, mas em palco revelam-se com maior acuidade e pormenor as suas veias de compositor e cantor. Desde logo, por imposição da ausência de acompanhamento, todas as musicas apresentadas tinham arranjos totalmente diferentes. E que arranjos, meus senhores! Arriscaria até a dizer que a maior parte dos temas resultam muito melhor ao vivo do que em estúdio. Exemplo evidente foi Song Song Song: no álbum, a música é composta por uma amálgama de sons produzidos por vários instrumentos de percussão. Ora, em palco não havia nada para percutir... excepto o violino e a criatividade de Owen Pallet. Resultado: uma outra musica e o melhor momento do concerto! Gravando frases sobre frases, Owen construiu um muro de batidas impressionante, uma autêntica dança tribal, colocando a sua voz e o violino por cima. Brilhante! E aqui percebeu-se porque é que o músico sempre se mostrou tão relutante em trazer consigo mais gente – ao vivo, as músicas tocadas apenas por si têm outra vida.
Para além de tudo isto, Owen canta muitíssimo bem, possuindo uma amplitude de voz e diversidade no alcance de notas impressionante.
Alternando entre He poos clouds e Has a good home, a surpresa viria no final. Aos primeiros acordes do segundo tema apresentado no “encore” da praxe, a sala da casa das artes mostrava-se surpreendida: Owen presenteava-nos com uma magnifica interpretação de This Modern Love, dos Block Party (que pode ser ouvida na pagina do My Space, clicando aqui).
Após uma estreia discreta na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa e uma breve passagem pelo Sudoeste, este périplo de três dias consecutivos (Sábado em Leiria e Domingo em Lisboa), com salas sempre cheias, mostrou-nos o projecto Final Fantasy como um dos melhores momentos musicais do ano.

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Agora que me contas os pormenores, estou ainda mais deprimido...
Abraço.

Pela recepção que lhe foi feita, não tarda nada e está de regresso.

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