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Em amena cavaqueira com... Francisco Silva (Old Jerusalem)


Francisco Silva não tem passado despercebido. Se calhar, muitos não o reconhecem pelo seu nome próprio, mas desconfio que já são poucos aqueles que ainda não ouviram falar do seu projecto Old Jerusalem.
Tem sido um caso sério de qualidade no panorama da música nacional, de tal forma que os seus dois álbuns até à data editados, constaram, de forma unânime, no topo das listas dos melhores de 2003 e 2005. Pelo caminho, ainda fomos ouvindo momentos partilhados com os Alla Polacca, Bruno Duarte, Puny e Unplayable Sofa Guitar.
Para Fevereiro do próximo ano está agendada a saída da terceira aventura. Aproveitamos o tempo que ainda falta para a edição e convocamos o Francisco para uma troca agradável de ideias.


Lenta Divagação: A promoção de Twice The Humbling Sun está a chegar ao fim. Logo após o álbum ter saído, assisti a um concerto teu no Passos Manuel, com a sala a metade; há um mês atrás voltaste ao mesmo local, mas desta feita perante um espaço repleto de gente. Como tens sentido a recepção do teu trabalho pelo público?
Francisco Silva: Em termos de recepção por parte do público a minha percepção é muito vaga. O feedback que temos tido é positivo, mas é natural que assim aconteça porque, ao fim e ao cabo, quem não gosta de um concerto não vem falar connosco ao final e dizer-nos isso, é mais natural que o façam aquelas pessoas que gostam da nossa música. Mesmo em termos de dimensão do nosso público as coisas não são lineares. Pode perfeitamente acontecer estarmos a tocar para 200 pessoas num dia e para 30 no dia seguinte, pelo que é realmente difícil de saber se estamos a chegar a mais gente com cada passo que tomamos. Aliás, é-me inclusivamente difícil saber se temos efectivamente um público ou se apenas vamos captando o interesse pontual de um conjunto de pessoas mais atentas ao que vai surgindo. Mas no geral parece-me que a música que fazemos vai lentamente chegando a mais gente e o feedback tem sido muito positivo, o que é bastante agradável.
LD: Em palco estiveste acompanhado de outros músicos, o que conferiu maior riqueza e amplitude ao projecto Old Jerusalém e marcou a diferença para "April"; inevitavelmente, perdeu-se algum intimismo. Em que registo te sentes mais confortável?
FS:O nível de conforto que sinto em cada um dos registos tem mais a ver com a situação concreta em que a música será exposta do que propriamente com o formato em si. Neste momento diria que me dá mais gosto tocar com a banda. A liberdade de acção é maior, o espectro sonoro que podemos abarcar também (embora na realidade tenhamos escolhido para já mantê-lo relativamente contido) e é mais interessante sentir o input criativo de um conjunto de pessoas. Os jantares antes da cada concerto também se tornaram bem mais divertidos, o que é um ganho só por si. [risos]
LD:Em tempos, disseste à Mondo Bizarre que "a escolha do inglês para as canções não determina que o imaginário do projecto siga coordenadas anglo-saxónicas". Mas Old Jerusalem assenta raízes, fundamentalmente, na folk, que ainda é um sector estranho ao meio musical português; ocasionalmente, aparecem referências ao teu meio natural, como se suspeita em "180 days". São apenas pontuais?
FS:Respondendo antes de mais ao preâmbulo da questão: não sinto, no meio em que me movimento, que a folk seja um sector estranho no nosso panorama musical. Parece-me, pelo contrário, que temos acompanhado a tendência global de revitalização deste género e das suas várias miscigenações, mesmo as mais aventurosas e vanguardistas. Por outro lado, parece-me que a matriz do que faço é simplesmente a escrita de canções, o que naturalmente me aproxima do universo folk mas não me afasta necessariamente de outros géneros com ênfase nas palavras cantadas. E posto que esta aproximação a géneros musicais tem mais a ver com a forma do que com o conteúdo lírico, não sinto que as referências ao meu meio natural sejam pontuais, elas são o pano de fundo e a base de cada canção: uma forma de ver o mundo que é pessoal e que quer ser universalizável (e é trabalhada para sê-lo o melhor possível). Importar um conteúdo/imaginário lírico parece-me uma coisa muito pouco natural, independentemente da forma que se lhe dê.
LD:As pequenas narrações que nos vais fazendo chegar são agradavelmente fotogénicas e cinematográficas. Nunca te despertou interesse acrescentar estas áreas ao projecto?
FS:
Não particularmente, embora não me desagrade a ideia.
LD:A evolução qualitativa que se sentiu de "April" para "Twice The Humbling Sun", quer ao nível da escrita, quer na composição, foi manifesta. E vem aí álbum novo…o que podemos esperar?
FS:
Essa pergunta é sempre difícil de responder para quem está envolvido na “confecção” de cada trabalho. Ao fim e ao cabo a sensação que temos é a de que simultaneamente tudo muda e tudo se mantém igual com cada novo trabalho! Posso assegurar com alguma objectividade que há melhorias a nível técnico: o disco está, na generalidade, melhor tocado, um pouco mais rico, com melhor som. Também me parece que há diferenças ao nível da escrita, e estou satisfeito com o caminho que as canções foram e vão tomando, mas no fundo continuam a ser simplesmente novas canções de Old Jerusalem, pelo que numa determinada perspectiva o próximo álbum será apenas um novo disco de Old Jerusalem.
LD: Qual o papel da Bor Land no universo Old Jerusalem?
FS:
Sem fugir muito à verdade pode dizer-se que os 2 projectos cresceram em conjunto, pelo que há uma forte ligação entre eles. O “April” foi dos primeiros lançamentos da Bor Land e o primeiro álbum de um artista lançado pela editora; por outro lado, antes do lançamento da maquete conjunta com os Alla Polacca (também supervisionada pela Bor Land) as canções que eu escrevia apenas existiam como um esquema do que viria a ser “Old Jerusalem”. O entendimento e a empatia que se gerou com as pessoas ligadas à Bor Land fez com que o trabalho que se foi desenvolvendo fosse tido como um projecto comum a todos, relevante para todos e interessante para todos.
LD: O salto para outras paragens é um desafio possível ou apetecível?
FS:
É um desafio possível com várias limitações e obviamente apetecível. Mas temos consciência dos limites da nossa acção.
LD:Tens vindo a colaborar noutros locais: como tem corrido a aventura com os Unplayable Sofa Guitar?
FS:Tem corrido bem, a meu ver, embora eu não seja a pessoa mais indicada para fazer essa avaliação. Os Unplayable Sofa Guitar têm uma forma particular de existência e vão oscilando entre estados de actividade mais regular e outros de quase hibernação [risos]... O facto de a “banda” não existir como tal e ir assumindo diferentes configurações consoante as circunstâncias é simultaneamente um dos seus pontos de interesse e uma das suas maiores fragilidades.
LD:Tenho insistido nesta questão, porque me parece que é a vossa opinião, enquanto músicos, que mais interessa para o caso: tens sentido alguma diferença na exposição dos teus trabalhos com as alterações impostas pela nova lei da rádio?
FS:
Não posso dizer que sinta qualquer diferença, mas não tenho informação suficiente ou termo de comparação para saber se o impacto da lei é positivo ou não. Não estou suficientemente atento à programação da rádio nem tenho conhecimento suficiente da legislação em causa para ter uma posição sustentada sobre o assunto.
LD:
Terminando na tua música: servem-lhe mais as palavras ou os sons?
FS:
Não saberia dizer com certeza, mas desconfio que me sirvam melhor as palavras.

O nosso agradecimento ao Francisco pela disponibilidade e atenção. Como se espera vir a tornar hábito, depois da cavaqueira seguem-se Peças de Roupa. Estejam atentos... Entretanto, vão espreitando estes espaços (há por lá mp3, para quem ainda não conhece os sons):

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Assisti ao último concerto no Passos Manuel e gostei muito. Obrigada pela entrevista que aqui partilhas!

Old Jerusalem é grande...
Muito grande.
Excelente entrevista, mais uma vez.
Abraço.

Sombra,
para quando as "Peças de Roupa" do Francisco Silva?!
Há quem esteja curioso...

Desculpa, mas tenho tido algumas dificuldades, digamos, logísticas. Amanhã não falha!

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