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Subsídios



Uma Câmara Municipal tem, obrigatoriamente, de desempenhar um papel activo ao nível da dinâmica cultural da sua cidade. Não se lhe pede que concorra com privados: não lhe cabe bater-se pelos produtos que estes oferecem e não é objecto da edilidade prosseguir e perseguir o lucro - se este ocorrer, tanto melhor; senão, paciência.
Dela espera-se uma outra atitude: formação de públicos e patrocínio de alternativas que não se encontrem no sector privado. O subsídio, mais do que “esmola” ou desperdício/fundo perdido atribuído a lunáticos, deveria ser percebido enquanto aposta num produto cultural, apetecível para um determinado público, potencialmente apetecível para outro e, sobretudo, que não pode ser encontrado, nem oferecido, pelas restantes entidades privadas. É isto que se pede a Rui Rio, é isto que se espera da Câmara Municipal da segunda cidade do país.
E que objectivos alcançam estas iniciativas? Precisamente, oferecer produtos de qualidade que mais ninguém oferece, criar hábitos no público, atrair mais gente à cidade, dar-lhe visibilidade. Vejam-se os exemplos de sucesso obtidos aqui tão perto com a Casa das Artes em Famalicão, a magnífica reabertura do Theatro Circo em Braga ou a aposta de Guimarães no seu Centro Cultural Vila Flor.
O Porto é uma cidade privilegiada; tem salas com excelentes condições para espectáculos musicais, de teatro, conferências ou cinema. E tem público. Rui Rio é que não tem qualquer visão cultural, nem sequer uma ideia sobre o papel da câmara nesta área ou da importância da urbe.
No seu primeiro passo a título de intervenção cultural, Rio exigiu que se tratasse bem a Câmara, afastando o apoio a todos os projectos mais arrojados que ousassem escolher a via da crítica à cidade – uma atitude que espelha a notável e admirável noção de democracia do Presidente.
No seu segundo avanço, Rio cortou o mal pela raiz: decidiu não patrocinar ou apoiar os projectos vindouros, tout court, sem sequer apreciar a respectiva qualidade, objectivos a prosseguir, viabilidade e entidade - o futuro é tratado da mesma forma: não há apoios para ninguém. E por aqui não é possível perceber o objectivo da cruzada contra os eternos subsídio-dependentes; é que quando se nega veemente o apoio, sem conhecer sequer o projecto a apoiar, a intenção não pode ser a de combater os ditos parasitas, mas tão-só a de aniquilar culturalmente a cidade.
Ao menos, não perdeu o tino: lembro-me, por exemplo, da ocasião em que assinalou um avanço importante da cidade rumo à modernidade, ao inaugurar um wc para cães, com direito a conferência de imprensa in loco e registada para telejornais.
Como diria o grande Godinho, “cá se vai andando, com a cabeça entre as orelhas”…

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  • sombra
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