segunda-feira, outubro 30, 2006

sombra

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Peças de Roupa : : Nuno Prata

Visitar o guarda-roupa de um músico tem um interesse acrescido: conhecer e perceber melhor o seu próprio trabalho. Há uma ligação umbilical àquilo que se foi escutando ao longo dos anos e que, necessariamente, se reflecte no que é criado. No caso de Nuno Prata, essa dinâmica é evidente. Aqui ficam as suas vestimentas, na primeira pessoa:

1 – Campolide - Sérgio Godinho (1979)
Foi um dos primeiros discos que ouvi do Sérgio Godinho, juntamente com o "Pano Cru" e o "Canto da Boca". Eram da mãe do Manel Cruz e trouxe-os para casa emprestados uma data de tempo. Com eles comecei a aperceber-me que as canções não são só de quem as escreve mas também de quem as ouve.

2 - New Times - Violent Femmes (1994)
É um disco menos conhecido, o primeiro depois da saída do mítico Victor DeLorenzo (que uns anos mais tarde voltou). Tem uma capa estranha da autoria de Guy Hoffman — que entrou para o lugar de DeLorenzo —, em que ele joga com o título do disco e o nome da banda: "Violent Times, New Femmes", acabando por dar uma boa definição do disco.

3 – Livro - Caetano Veloso (1997)
Há neste disco canções de que não gosto particularmente, mas aquele "Vem…", seguido da entrada das percussões na primeira canção, "Passistas", e os versos "Os livros são objectos transcendentes / Mas podemos amá-los do amor táctil / Que votamos aos maços de cigarro" da segunda canção, "Livros", levaram-me a querer conhecer melhor o trabalho do Caetano Veloso.

A propósito, o Nuno Prata vai estar no próximo Sábado, dia 4/11, pelas 21h45, no Centro Cultural de Alfena (Valongo). Os bilhetes custam a módica quantia de 1 €.

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sexta-feira, outubro 27, 2006

Sonoro em Movimento



The Spinto Band - Oh Mandy (Nice and nicely done, 2005)

Estes rapazitos ainda fazem lembrar, a espaços, uns Clap Your Hands Say Yeah... estrearam-se em 2005 com este "Oh Mandy", de forma tímida, mas eficaz. Não sei é se conseguirão manter o interesse.

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Teorias indecifráveis

Há tipos que não têm mesmo mais nada para fazer... será o caso deste senhor que, por A + B, desenvolveu uma minuciosa explicação sobre o suposto falecimento de Paul Mcartney, em 1966... e a sua substituição por um trapaceiro qualquer!!
E olhem que o dito Doutor fez um verdadeiro trabalho de investigação, com provas irrefutáveis!! Deliciem-se, clicando aqui...

quinta-feira, outubro 26, 2006

Em amena cavaqueira com... Nuno Prata



A propósito da estreia de TODOS OS DIAS FOSSEM ESTES/OUTROS, que aqui assinalamos, convidamos o músico Nuno Prata para uma curta conversa. Os novos sons têm andado nos ouvidos mais atentos dos melómanos portugueses - e merecidamente, porque valem a pena. Aqui fica o resultado.
Lenta Divagação:A saída de TODOS OS DIAS FOSSEM ESTES/OUTROS era há muito aguardada. Porque demorou tanto tempo a ver a luz do dia?
Nuno Prata: Porque ninguém se interessou verdadeiramente em editar o meu trabalho antes. Porque a Turbina quase não tem estrutura pessoal nem financeira e este é apenas o segundo disco que edita, e o primeiro de canções. Porque eu decidi fazer uma capa para o CD fora das normas.
LD:Pelo que vou ouvindo e lendo, a recepção ao álbum tem sido calorosa. Tens essa percepção?
NP:A recepção tem sido especialmente calorosa pelas poucas pessoas muito curiosas e interessadas que vão aparecendo nos concertos. O "meio" que apregoa o seu interesse em canções, e em canções cantadas em português, está-se — com algumas excepções — completamente marimbando.
LD: Ao apresentar 19 temas num primeiro trabalho, não estás a descartar demasiados trunfos logo à partida?
NP:Não. Primeiro porque as canções têm um tempo de vida e têm de ser usufruidas durante esse tempo. Os trunfos para o serem têm de ser jogados no momento certo, senão de nada valem. Estas eram as canções que estavam prontas para gravar. Segundo porque tenho mais umas dezenas de canções e umas centenas de ideias em bruto, e estes é que são neste momento os meus trunfos se eu quiser continuar a partida. Já por várias vezes me disseram que o disco tem demasiadas canções. Demasiadas vezes. O facto de ter muitas canções também podia servir para dizer que eu sou super criativo.
LD: Durante algum tempo foste desenvolvendo uma parceria com Nicolas Tricot, apresentando-se os dois sob a veste " Nuno, Nico". A cumplicidade manteve-se, mas o projecto aparece apenas sob o teu nome.
NP:Manteve. O Nico foi, e continua a ser, fundamental para todos os passos do processo posteriores à composição. O projecto à partida era já um projecto a solo. Na altura em que comecei a apresentar as canções ao vivo achei que "Nuno, Nico" ilustrava bem aquilo que as pessoas iam ver no concerto: eu e o Nico a tocar. Deixou de fazer sentido quando comecei também a fazer concertos a solo.
LD:Creio não ser apenas a minha opinião pessoal, mas de uma forma geral sente-se que o panorama da musica portuguesa ficou bem mais pobre com o desaparecimento de duas bandas - os Belle Chase Hotel e, precisamente, os Ornatos Violeta. Não obstante, os seus elementos continuam-se a mostrar activos, como é, felizmente, o teu caso. Estas aventuras inviabilizam o regresso dos Ornatos?
NP:Eu acho que pode ter ficado um pouco mais rica. Os Ornatos multiplicaram-se: Pluto, Dep, Supernada, eu e o Manel. Os Belle Chase Hotel (e espero não estar a dizer uma parvoíce) também: Quinteto Tati e JP Simões. As bandas também têm um tempo de vida e o nosso já passou. É isso que inviabiliza o regresso dos Ornatos.
LD:Trazendo à discussão um assunto muito debatido nos últimos tempos: um dos argumentos a favor da nova lei da rádio e da imposição de quotas foi a protecção da música portuguesa e o aumento de rodagem nas rádios, de temas compostos em língua portuguesa ou provenientes de músicos nacionais. Tens sentido qualquer mudança de hábitos, positiva ou negativa, neste sentido?
NP:Não ouço rádio. O meu avariou-se há já uns anos e o carro que herdei da minha mãe não tem. Parece-me que sendo essa uma medida isolada não dará origem a grandes mudanças. A questão é bem mais complexa.
LD: Para a promoção do teu álbum, tem sido mais profícua a rádio ou a internet?
NP:Sei que as canções vão passando na rádio, graças aos radialistas que podem escolher aquilo que passam nos seus programas. A acreditar no que me vão dizendo, tirando a Antena 3, passam sobretudo em rádios locais. Na internet consigo tomar melhor o pulso a isso. Todos os dias adiciono pessoas à minha lista de amigos no MySpace e têm surgido vários pedidos de entrevistas para blogues, como este. Mas neste caso estamos a falar mais de divulgação boca a boca.
LD:Como vai ser a apresentação em palco do disco e onde é que a vamos poder presenciar?
NP:O lançamento do disco foi feito através de várias apresentações nos fóruns FNAC. O concerto é feito em trio para mostrar as canções com os arranjos do disco. À partida poderão vê-lo em qualquer local que nos contrate para o efeito.
A Lenta Divagação agradece ao Nuno Prata a disponibilidade e colaboração. Não o deixem de visitar por estes sítios:
Já agora, e para aguçar o apetite, estejam atentos às próximas edições do Peças de Roupa...

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Opção correcta

De facto, isto faz mais sentido do que assaltar espaços públicos.

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quarta-feira, outubro 25, 2006

Reflexão

...a propósito do arranque da 7ª Festa de Cinema Francês no Porto. Foi ontem e chamaram-me à atenção dois factores:
- O Rivoli só esteve incluído no certame para a sessão inaugural; os restantes filmes serão projectados nos Cinemas Cidade do Porto;
- Por obra e graça de alguém, os bilhetes para a sessão de ontem foram gratuitos.
Depois do turbilhão à volta do espaço municipal, estes factos não deixam de ter alguma piada... terá sido um descarregar de areia para olhos ou tratou-se apenas de um momento de puro mecenato?

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Em digressão: Paulo Perfeito Sexteto e Carlos Bica & Trio Azul

A não perder hoje, pelas 21h30m, no Grande Auditório do Rivoli no Porto, o concerto de Carlos Bica & Trio Azul e Paulo Perfeito Sexteto.
Paulo Perfeito vem apresentar a sua obra “Bodhi Suite", encomendada pela Culturporto e Carlos Bica, por sua vez, estreia "Believer" na companhia do "seu" Trio Azul" - Frank Möbus (guitarra) e Jim Black (bateria).

segunda-feira, outubro 23, 2006

Peças de Roupa : : Ricardo Tolentino

Segundo guarda-roupa em espionagem. Desta feita, e ainda vasculhando no círculo de amigos, tentamos perceber como se veste quem se dedica à construção de espaços; o Ricardo Tolentino vai dividindo o seu tempo pela Arquitectura, num vai-vém constante entre o Porto, cidade-natal, e Viseu, chamemos-lhe cidade-laboral. Para alcançar o almejado equilíbrio entre pessoas e construções, presumo eu que seja necessário adpotar diversas perspectivas. É o caso:
1 - Dig your own hole - The Chemical Brothers (1997)
Para me soltar sozinho com gente à volta, vestir a pele do lobo, sentir o sexo a pulsar, ganhar velocidade, descolar...
2 - OK Computer - Radiohead (1997)
Para ouvir até à última migalha. Os sons são esticados até ao limite, mas cobertos por uma manta translúcida de sossego e ternura. A resposta interior não pára de se contorcer.
3 - Koln Concert - Keith Jarret (1975)
Os longos segundos de palmas que seguem o terminar de cada faixa são por mim perfilhados com igual fervor. Intemporal, este álbum é a beleza depurada, claridade ofuscante.

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Sonoro em Movimento


Iron and Wine - Naked as we came (Our Endless Numbered Days - 2004)

Deve mesmo ser do Outuno...ou então sou eu que ando cansado. De qualquer forma, é uma música enorme: dois minutos e meio é o tempo suficiente para inspirar... expirar... e deixar prosseguir.

De notar que este é o video oficial, mas encontra-se no Youtube uma outra versão bem mais interessante, ainda que não tenha conseguido descortinar qual a sua origem.

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domingo, outubro 22, 2006

Peças de Roupa : : Olavo Lupia

E para inaugurar, nada melhor que ouvir os ensinamentos do Exmo. Sr. Professor e Doutor Olavo Lupia, catedrático nestas andanças e com quem muito aprendi e aprendo no delicioso mundo dos sons. Melómano a tempo inteiro e músico quando a azáfama do dia-a-dia o permite, Olavo aceitou o desafio: aqui ficam as peças com que o mesmo se foi vestindo nestes 29 anos que por cá tem andado.
Aproveito a oportunidade para convidar os mais desatentos a visitarem o tasco do Sr. Professor, que vale bem a pena: androideparanoide.blogspot.com.
Por aqui, a regra é simples: pede-se apenas, para cada três peças de roupa, três pequenas divagações. Eis a fatiota de Olavo, em discurso directo:
1 - O.K. Computer (1997), Radiohead
Como muitos da minha idade, eu ouvi o rock alternativo que tinha saído de Seattle do princípio dos anos 90. Por esta altura, a minha banda preferida era Soundgarden e pensava que não se conseguia ser muito melhor que aquilo - o que, em termos de rock, continuo a achar. Radiohead eram, para mim, os baladeiros do Creep, High & Dry ou Fake Plastic Trees. Até que, após insistência de um amigo, ouvi o OK Computer. Jesus! Fiquei com um sorriso na cara que me demorou dias a tirar. A música que despoletou todo esse processo e que me chamou a atenção foi a segunda, Paranoid Android. O disco é, para mim, perfeito. O equilíbrio e a coerência entre as músicas é brilhante. Porque é que me marcou tanto? Libertou-me as amarras e tirou as palas que eu tinha: nem tudo o que era feito em volta de guitarras podia ser sublime. Musicalmente, acho que é mesmo o grande "turning point" da minha vida.
2- Grace (1994), Jeff Buckley
A verdadeira banda sonora da "dor de corno". A voz do Buckley é uma coisa que transtorna qualquer pessoa que seja dotada do sentido da audição. Mojo Pin vem das vísceras e a entrada da voz põe-nos em sentido! Grace é um hino perfeito ao amor e à mortalidade, que o próprio veio a sentir na pele. Last Goodbye é uma música impressionante: as melodias parecem demasiado perfeitas e naturais para serem verdade. Belíssima a versão de Lilac Wine , já imortalizada pela voz de uma das suas grandes referências, Nina Simone. A composição de So Real (para mim, que até tenho umas noções elementares de guitarra e de composição) deixou-me (e deixa ainda) com 10cm e a falar muito fininho. Hallelujah é a definitiva e sedutora versão da música escrita por L. Cohen. Lover, You Should've Come Over é uma das mais belas canções de amor já escritas por qualquer humano (partindo do pressuposto de que o JB o era...). Corpus Christi Carol é mais um tour de force da fabulosa voz de Buckley. A nota mais rock e mais social vem com Eternal Life. Dream Brother fecha o disco com chave de ouro - e a sua versão live é fenomenal.
3 - Mule Variations (1998), Tom Waits
Não é o meu disco preferido de Tom Waits, mas foi esta a minha porta de entrada para o Tom Waits. E Tom Waits é, se não o meu preferido, um dos meus preferidos. A escrita de canções, os vários "mundos" em que Waits vive e aquela voz... aquela voz... Se Buckley ou Thom Yorke corresponderiam a vozes de anjos, Waits correspondem à voz "de lá de baixo"! E este disco é um bom exemplo de que uma voz tão "marcada" como a de Waits pode ser multi-facetada. Em quase todas as músicas, ele usa o seu instrumento vocal de forma diferente. Um verdadeiro génio.

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Peças de Roupa

A evolução da Internet veio alterar, profundamente, o mundo da música, dos músicos e dos seus consumidores. Sem querer elencar proveitos e custos destes novos caminhos, há no entanto uma realidade da qual me é difícil abdicar: o formato álbum.
O futuro não é muito difícil de prever: daqui a muito pouco tempo, a musica será quase integralmente comercializada sem qualquer suporte físico - por certo, as editoras passarão a disponibilizar apenas, como já vêm fazendo amiúde, catálogos de singles isolados.
Não vejo os álbuns como um conjunto disforme de canções; vejos-o como um livro, como uma entidade autónoma, com princípio, meio e fim. Por isso sempre me fascinaram os trabalhos conceptuais, escritos em torno de uma ideia que se desenvolve em cada um dos trechos musicais que compõe o produto final. E o próprio objecto físico também faz parte integrante da devoção, com os booklet's, as letras, as capas e as fotos. Se já muito se tinha perdido com a passagem do vinil para o compact disc, muito mais se evaporará com o advento da venda de ficheiros singulares de mp3.
Precisamente para avivar a nossa memoria sobre estes magníficos objectos, e que ao longo da nossa vida nos marcaram de uma qualquer forma, a rubrica Peças de Roupa visitará amigos, desconhecidos, músicos, melómanos e afins, propondo-lhes um pequeno desafio: divagar sobre três obras musicais que os acompanharam num qualquer momento das suas vidas. Sem qualquer preocupação estatística ou obsessão de construção de uma daquelas listas chatas de “favoritos”.
Obrigado àqueles que responderam ao desafio.

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Correcção...

...ao post anterior sobre a 7ª Festa do Cinema Francês, para acrescentar que a projecção dos filmes será partilhada entre o Rivoli e o Cinema Cidade do Porto.

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sábado, outubro 21, 2006

7ª Festa do Cinema Francês

Apontem na agenda: vai passar pelo Rivoli, entre os próximos dias 24 e 29 de Outubro, a 7ª Festa do Cinema Francês, evento organizado pelo Consulat Général de France e pela Alliance Française do Porto. Os bilhetes para cada sessão custam 3,5 €.
Vão lá que vale a pena; afinal, nem só de circo mediático vive o Rivoli…

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quinta-feira, outubro 19, 2006

Sonoro em Movimento


Final Fantasy, He Poos Clouds (2006)

Este tema falhou a set list do concerto de Famalicão, com muita pena nossa, pois é uma das melhores canções do 2º album de Final Fantasy. Teria sido mais um grande momento.

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quarta-feira, outubro 18, 2006

Banda Sonora


Agora que o frio se acolhe


Mùm, Finaly we are no one (Fat Cat, 2002)

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Porto nos iis...


De um lado, o folclore do costume, com recurso a barricadas e tomadas de espaços públicos para tempo de antena em horário nobre; do outro, um presidente da Edilidade que aproveita qualquer oportunidade para se demitir das suas funções, contribuindo para o acentuar do cizentismo da cidade e carregando como porta estandarte cultural de referência, o fomento de uma corrida de chaços de mil novecentos e troca-o-passo.

Assim fica difícil.

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Em directo: Final Fantasy, Casa das Artes - Famalicão, 16.10.2006

Não estava minimamente preparado para o que vi na Casa das Artes em Famalicão. Receei o concerto a partir do momento que soube que Owen Pallet viria a Portugal sozinho, sem auxílio de mais nenhum musico. É que He poos clouds, o segundo e aclamado álbum do músico canadiano, foi escrito para um quarteto de cordas, não para um musico só. E a experiência com one-man-bands não tem sido nada agradável; lembro-me, por exemplo, da semi-desilusão que foi o concerto de Andrew Bird nesta mesma casa. Mas a noite de segunda-feira superou todas as expectativas.
O palco era muito simples: uma tela branca, um teclado, um amplificador, dois microfones, um aparelho carregado de pedais e um retroprojector.
Owen, de aspecto franzino, entrou decidido e cheio de energia. Mal as luzes se apagaram, rompeu pelo palco a passo de quase corrida e, com o seu inseparável violino, deu início à magia: Do You Love foi o primeiro tema apresentado num curto mas energético concerto.
Ficamos rendidos logo ao início. Actuando sozinho por opção própria, Owen recorreu ao artifício dos samplers e loops, criados in loco. E a regra manteve-se ao longo de todo o concerto: para cada musica, o canadiano gravava uma linha de baixo com o violino, depois outra e depois mais outra ainda, cantando e tocando por cima dos sons que daí floriam. A dada altura, os violinos multiplicavam-se, mais parecendo que estávamos na presença de uma verdadeira orquestra! A emoção que Pallet conferia às notas que sacava do violino, a forma, por vezes pouco ortodoxa, com que utilizava o instrumento, a circularidade dos sons que dali rompiam... foi tudo perfeito!
A acompanhá-lo em palco, uma senhora ia ilustrando os trechos musicais com pequenos contos, que nos chegavam através da sobreposição de acetatos projectados no ecrã branco ao fundo do palco: castelos, príncipes, princesas, barcos, aviões, lagos, cores e uma fixação estranha por esqueletos e homens enforcados. Tudo muito artesanal, mas com resultados visuais brilhantes.
Nem só de musculo viveu o concerto. São conhecidas as capacidades musicais de Owen, sobretudo na execução, mas em palco revelam-se com maior acuidade e pormenor as suas veias de compositor e cantor. Desde logo, por imposição da ausência de acompanhamento, todas as musicas apresentadas tinham arranjos totalmente diferentes. E que arranjos, meus senhores! Arriscaria até a dizer que a maior parte dos temas resultam muito melhor ao vivo do que em estúdio. Exemplo evidente foi Song Song Song: no álbum, a música é composta por uma amálgama de sons produzidos por vários instrumentos de percussão. Ora, em palco não havia nada para percutir... excepto o violino e a criatividade de Owen Pallet. Resultado: uma outra musica e o melhor momento do concerto! Gravando frases sobre frases, Owen construiu um muro de batidas impressionante, uma autêntica dança tribal, colocando a sua voz e o violino por cima. Brilhante! E aqui percebeu-se porque é que o músico sempre se mostrou tão relutante em trazer consigo mais gente – ao vivo, as músicas tocadas apenas por si têm outra vida.
Para além de tudo isto, Owen canta muitíssimo bem, possuindo uma amplitude de voz e diversidade no alcance de notas impressionante.
Alternando entre He poos clouds e Has a good home, a surpresa viria no final. Aos primeiros acordes do segundo tema apresentado no “encore” da praxe, a sala da casa das artes mostrava-se surpreendida: Owen presenteava-nos com uma magnifica interpretação de This Modern Love, dos Block Party (que pode ser ouvida na pagina do My Space, clicando aqui).
Após uma estreia discreta na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa e uma breve passagem pelo Sudoeste, este périplo de três dias consecutivos (Sábado em Leiria e Domingo em Lisboa), com salas sempre cheias, mostrou-nos o projecto Final Fantasy como um dos melhores momentos musicais do ano.

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segunda-feira, outubro 16, 2006

Opiniões

Claro como a água: as opiniões são, efectivamente, como as bundas - toda a gente tem uma. E a ilustrar este propósito doutrinal, nada melhor do que o suplemento Y do Público da passada sexta-feira: enquanto o escriba de serviço catalogava o último album dos The Killers com um singelo 1/10, a FNAC comprava 1/4 da página seguinte para, em letras garrafais, aconselhar a compra do mesmo trabalho. Questão de gostos? Não só...

Em digressão: Cat Power

Ao que tudo parece indicar, Chan Marshall irá regressar a Portugal no próximo dia 4 de Dezembro, para um concerto na Aula Magna em Lisboa. Conhecendo a cantora norte americana, este anuncio deve ser lido em suspenso, enquanto mera possibilidade. É que pode vir a acontecer isto…
Em estúdio, a vida de Marshall tem corrido bem. Os dois últimos registos caíram no goto do pessoal e confirmaram o seu imenso talento para a escrita de canções. É nesse ambiente que melhor conseguimos ligar o trabalho de Cat Power com a inocência que aparenta a figura da própria Chan Marshall.
Pois, mas é mero fogo de vista… é já sobejamente conhecido o seu passado (presente?) tenebroso, no que diz respeito à sua ligação com o álcool e drogas. Se se tratasse apenas do foro privado estávamos, na verdade, a borrifarmo-nos para a questão. O problema é que este espinho afecta, e de que maneira, o seu lado profissional. Os exemplos rolam um pouco por todo o lado na net e encontram-se suficientemente documentados nos media e na nossa memória colectiva: ainda se lembram do célebre concerto no Blá-Blá, aqui há uns anos, em Matosinhos.? Para não variar Marshall apareceu mais para lá, do que para cá. Por ser já imagem de marca, a principio ninguém ligou – “faz parte”, pensava-se. Pois, mas aquilo correu mal. Não só não conseguiu executar uma única música até ao fim, como ainda teve tempo para insultar toda a gente, chegando quase a “vias de facto” com alguns dos espectadores que por ali estavam. Uma cena muito na esteira da corrente "Axlroseana"...
Mais do que viver o “espírito rock n’ roll”, os concertos de Cat Power tornaram-se espectáculos decadentes e, sobretudo, celebrações de desrespeito e falta de consideração para quem paga bilhete.
Mas então porquê é que se marca na agenda este evento? Meus amigos, é que a música que dali sai é mesmo muito boa. Mesmo. E precisamente por isso é que se festeja o anúncio do regresso. Mas com cautela…

sexta-feira, outubro 13, 2006

Outros sítios

É verdade que a Folk, na sua variante de contornos mais "Indie", está na moda, talvez pelo empurrão que lhe foi merecido por pessoal como Devendra Banhart, Will Oldham, Iron & Wine, entre outros tantos, ainda que bem menos interventiva do que a produzida pela anterior geração. Já não existem Dylans, é verdade, mas também como o Bob só podia ter havido um. E estamos a anos luz desses tempos.
Ora, é precisamente no Outuno que os ambientes bucólicos deste campo musical se servem melhor. E então se forem acompanhados por um bom queijinho da serra e pelo competente sumo tinto de uva...
Aqui fica a proposta: é só dar um saltinho até ao Aquarium Drunkard e ouvir o podcast do respectivo programa de rádio n.º 16, inteiramente dedicado à folk, onde se podem encontrar algumas pérolas, como é o caso do original de "Dazed and Confused", de Jack Holmes, mais tarde trazido à luz da ribalta pelos Led Zeppelin.
Ideal para tardes de Domingo. Basta clicar aqui

A visitar: www.aquariumdrunk.blogspot.com

quinta-feira, outubro 12, 2006

Sonoro em movimento


Klaxons - Atlantis to interzone (2006)

Dúvida: next big thing ou next big nothing? Pois, mas que dá vontade de pular, lá isso dá.E amanhã já é sexta-feira...

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Transe


O percurso de vida captado por Teresa Villaverde no seu recente Transe é um verdadeiro sufoco, um autêntico murro no estômago. E há já muito tempo que um filme não feria assim.
Para tal intensidade, muito contribuíram dois factores. Em primeiro lugar, a excelência da realização e da fotografia (a cena do gelo a ser quebrado é brutal!). Em segundo, a genial interpretação de Ana Moreira, num papel de uma exigência atroz: repare-se na transfiguração facial que a actriz vai sofrendo ao longo do filme. Soberba.

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terça-feira, outubro 10, 2006

Sonoro em Movimento



Kaki King - Playing With Pink Noise (2004)

Gosto desta senhora. E tem album novo: ...Until we felt red. Terceiro registo em três anos.Voltaremos aqui.

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Em digressão: Nouvelle Vague


E para os saudosistas de oitentas e amantes de bossa nova, a não perder a visita dos Nouvelle Vague.
É já sexta-feira, dia 13, no Hard Club em Vila Nova de Gaia, com segunda dose prometida para o dia seguinte no Paradise Garage, em Lisboa. Será então altura do colectivo francês, em ambientes mais adequados que o espaço gigante da Zambujeira do Mar, fazer desfilar o seu rol de versões de gente de outrora, como Bahaus, Joy Division, Cure, Depeche Mode, Dead Kennedys e outros tantos. É verdade que o segundo albúm soou a "mais do mesmo, enquanto está quentinho". Mas caso não exista alternativa para os dias em questão, o programa aparenta ser engraçadito. Pelo menos, quem os viu no Sudoeste gostou. A confirmar.

Morte anunciada?

Ao que parece, o Hard Club, em Vila Nova de Gaia, está por um fio, sendo mais que certo que só se aguente em pé, pelo menos com a actual gerência, até ao final do ano.

A novidade, a confirmar-se, não é surpreendente. A ambição do Hard Club sempre me pareceu demasiado arrojada e com custos muitos elevados para se poder manter durante tanto tempo. Até porque é um local de difícil fidelização de público, e basicamente por três ordens de razão.

Em primeiro lugar, devido à sua localização. Não existem transportes públicos e o estacionamento é mentira. Ou se vai de táxi, ou se deixa o carro em cascos de rolha. E as duas hipóteses não são agradáveis, pelo que só se opta pelo Hard Club quando o cartaz se impõe.

Ora, precisamente, aí está o segundo problema da sala nortenha: o cartaz é quase sempre direccionado para nichos de público e que não costumam partilhar espaços musicais. Ou temos actos de hip hop ou manifestações de metal. Ocasionalmente lá aparece algo diferente. Como é lógico, a casa não consegue ter um público certo.

Mas isso até nem seria problemático, se estivéssemos a falar de um espaço relativamente pequeno, como o caso do Porto Rio ou do Tertúlia Castelense. Não, o Hard Club é já uma sala de média/grandes dimensões, com as despesas e custos que isso acarreta. Assim é dificil, julgo eu, manter um cartaz apelativo e que consiga encher a sala de quando em vez. Dito em miúdos, para dar lucro é preciso suar muito.

Tenho pena que chegue ao fim. Fazem falta salas desta dimensão ao Grande Porto e o Hard Club marca a diferença em termos de condições para receber concertos. Recordo-me, por exemplo, de um enormíssimo concerto que os Mogway lá deram aqui há uns anos. A ver vamos como correm as coisas e o que se fará com a casa. Fala-se em restaurante de luxo. Bem, se não acontecer como o Palha D’Aço…

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Sonoro em movimento


Sigur Rós - Hoppípola (2005)

A estética da banda islandesa sempre esteve ancorada no imaginario infantil. Neste poderosíssimo single, porém, as personagens são mais velhas. Mas a inocência mantém-se...

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quinta-feira, outubro 05, 2006

Expressões Desinspiradas

"Madbaça"
________
Meados da década de oitenta. A cidade de Manchester fervilhava e a sua Factory dava cartas, debitando novos decibeis que pautavam o universo do novo rock mais dançável, em período de reflexão pós-punk. Como porta-estandarte, subiam ao pódio bandas como os New Order e os Happy Mondays.

Era o laço perfeito entre a musica de dança, a pop e as guitarras, tudo apimentado pelo boom das drogas sintéticas e sarapintado pela multiplicação das rave partys. Era a loucura meus senhores, a loucura! E enquanto a mesma durou, mereceu à dita cidade inglesa um novo epíteto: Madchester.

Duas décadas depois, a belíssima cidade portuguesa de Alcobaça vê as suas noites coloridas de novos sons, trazidos pelo aclamado bar Clinic, servindo de paisagem para algumas, poucas, experiências musicais, de onde se destacaram os The Gift e os Loto. Sobre esta pequena movida, um iluminado qualquer derreteu-se em elogios. E colou-lhe o seu epíteto: Madbaça…

quarta-feira, outubro 04, 2006

Banda Sonora


Porque hoje apetecem-me coisas simples
Belle and Sebastian, If you're feeling sinister, Matador, 1996

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terça-feira, outubro 03, 2006

Em digressão: Final Fantasy

O projecto Final Fantasy, de que falamos exactamente aqui, vai-se mostrar numa terceira data no nosso país, para além dos concertos agendados a 14 e 15 deste mês, em Leiria e Lisboa, respectivamente.
A razão do meu contentamento? É que a terceira é já a 16 de Outubro, na fabulosa Casa das Artes em Famalicão! Aqui tão perto...

segunda-feira, outubro 02, 2006

Em Directo: Old Jerusalem, Passos Manuel, 30.09.2006


Casa cheia no Passos Manuel para assistir a mais um momento brilhante de Francisco Silva, sob o nome do seu projecto Old Jerusalem. E começam mesmo a faltar adjectivos para definir as prestações do talentoso musico... grande, muito grande!

Desta feita, e talvez porque a sala impunha uma maior presença em palco, Francisco fez-se acompanhar a espaços por dois músicos (bateria e baixo/2ª voz). Não é experiência nova e resulta bem, ainda que em prejuízo do lado mais intimista veiculado pelas paisagens sonoras de Old Jerusalem.

A ideia que presidia à celebração era promover o recente álbum partilhado, Splitted, mas a actuação acabou por se repartir entre o seminal Twice The Humbling Sun e o novo álbum, com saída prometida para inícios de 2007.
Francisco Silva não é um homem complicado; ele próprio o reconhece, na apresentação de uma música que figurará (?) em próximos registos: "É isto que chamo de Cançoneta. Pequenina, não chateia...". Não, nada. As melodias vão saindo com naturalidade e espalham-se pela sala. Sem dificuldade, vamo-nos abraçando a elas.
E é definitivamente ao vivo que melhor se apreciam os pormenores: o diálogo estabelecido entre a voz e a guitarra é absolutamente delicioso, em especial quando esta quase se deixa de ouvir, para aquela melhor se projectar. E isso sucede, propositadamente, várias vezes ao longo do concerto - há uma habilidade inata no músico para perceber os ritmos de cada canção, que se torna evidente na forma como vai alterando a emoção que descarrega na guitarra, umas vezes com maior suavidade, outras vezes de forma mais brusca. Mas sempre perto da perfeição.

E assim o concerto funcionou como uma espécie de calmante, obrigando-nos sistematicamente a fechar os olhos e a servirmo-nos dos sons para, tranquilamente, pintarmos a época outonal que agora principia, ideal para a desenvoltura da folk propagada por Old Jerusalem.
Destacava, talvez, dois instantes: The Cry of a New Birth, pela nova e soberba roupagem e Chubby Mounds, pela excelência da prestação, que granjeou grandes aplausos da assistência.

É verdade que a sala também ajudou: para quem ainda lá não pôs os pés, fique a saber que o Passos é um antigo cinema, e que, ainda funcionando de quando em vez como tal, tem preenchido de sons (muitos e bons) a noite do Porto. E que se diga alto: esta sala tem excelentes condições sonoras e de conforto!

Por fim, dois motivos de aplausos: o concerto começou à hora marcada – o que é de registar, tendo em consideração a desconsideração que nos é votada pela maior parte dos locais onde estes eventos ocorrem; e o preço acessível do bilhete (5 €). Se for sempre assim, queremos mais, se faz favor.

Ficamos então a aguardar pelo novo álbum, com a certeza que, se o percurso continua, está já na hora da Bor Land e de Old Jerusalem apostarem noutras paragens. É que aqui há talento, meus senhores!

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  • sombra
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